Acontece frequentemente abstrairmo-nos do que temos à nossa volta e prestarmos apenas atenção àquilo que se encontra para além do nosso alcance quotidiano. A beleza que nos rodeia parece tornar-se banal por a termos sempre disponível e tendemos a só atribuir valor ao que é dos outros e está do lado de lá.
Em Portimão e arredores há muitas coisas dignas de apreço e tenho a sensação de que muitos de nós as deixamos, sistematicamente, passar ao lado, quando delas poderíamos usufruir com a maior facilidade.
O Forte de S. João do Arade - monumento classificado, embora propriedade de particulares - foi, recentemente, objecto de obras de recuperação e ficou de cara lavada.
É um pequeno forte cujos primórdios remontam aos finais do sec. XV, um dos emblemas da nossa linda vizinha Vila de Ferragudo e está sempre disponível a quem o olha da margem direita do nosso rio comum - o Arade.
Até os barcos acostados na marina se perfilam para lhe prestar homenagem....
Em todos estes séculos, foi um dos guardiões da entrada do Rio Arade e, se falasse, muitas coisas teria para nos contar. Não tendo voz, deixa-nos, no entanto, a possibilidade de dar largas à nossa imaginação e recordarmos por ele o que por ali se passou.
Quanta água - no inverno castanha dos aluviões roubados aos homens da serra e do barrocal;
Quantos barcos - galeões de quase-escravos, traineiras e enviadas, botes e chatas;
Quantos marujos - pescadores, mestres e contra-mestres, velejadores e remadores.
Quantos naufrágios - de barcos encalhados nos baixios das movediças areias do Rio, eternamente assoreado.
Tudo ele viu.
O Forte de S. João do Arade foi edificado à babuja do Arade e sobre as própria rochas que apertam as suas águas na margem esquerda.
E, agora - idoso mas sempre atento, em pose de sentinela impotente para parar o inimigo ou, mesmo, alertar do seu avanço inexorável - ali se mantém firme numa confrontação com as modernices que, do lado de cá, se têm vindo a instalar a pouco e pouco, ocupando espaços em terra e - preocupante, muito mais preocupante - roubando os que pertenciam ao Rio e ao Mar.
Dizem os antigos - velhos sábios marujos - que as suas águas, mais tarde ou mais cedo, virão sempre recuperar o que lhes pertence.
Não sei se sempre, mas os exemplos estão à vista. Não há inverno que não nos mostre essa tentiva do mar a tentar reocupar o que já lhe pertenceu, como aconteceu na Costa da Caparica ainda há dias.
Entretanto, disfrutemos do que a nossa terra tem de belo. Porquê perdê-lo todos os dias?...
Num mesmo olhar, num abraço amigo, o Forte, a Cidade, a Fóia e as Águas do Arade, já salgadas do mar.
7 comentários:
Mais uma vez, ficou deleitada com a beleza das suas fotos, que engrandecem o que já é bonito! O Forte de S. João, por ser particular,talvez, tem mantido a sua originalidade, deixando os turista e curiosos do lado de fora... Sempre me interroguei como será por dentro...
Muito bem conseguida, a fotografia tirada da marina!
Gosto muito de ir até ao miradouro do molhe de Ferragudo, daí consegue-se abarcar Portimão e a Serra de Monchique de uma penada só!
Cumprimentos!
Deixei comentário no post anterior e não o vejo. Terei sido censurada? Não acredito!
Olá, bom dia isabel
Apesar da moderação de comentários estar activada, até agora nunca foi censurado qualquer comentário neste blog.
Lamento, mas desconheço por que razão o teu não aparece.
Se não te importares de repetir, agradeço.
Aliás vou desctivar a moderação.
Obrigado, cara amiga.
Obrigada, foi comovente. Há 26 anos fui pela primeira vez a Alvor e Portimão. Ferragudo foi a praia que escolhi, alguns anos seguidos...aquele bar sobre a praia, o pequeno almoço no Snr João Pinto, os fihos que vi crescer, depois netos...Antes de...antes da Marina ter cortado o horizonte. Sei que é preciso progresso, eu sei, mas...
Agradeço tanto ter mostrado o castelo dos meus sonhos, fazendo castelos na areia com o meu filho! A única casa branca sobre a falésia, a casa da Infanta...as rochas e as grutas, passar com a maré vaza, ver os ninhos das andorinhas ...sei lá, e olhar para tudo, Portimão perto,linda, azul e branca, Monchique suave ao longe...muito obrigada.
Ola, boa tarde,
Escrevo de longe (frança) mas o meu coração é português.
Desde pequena que a minha praia era a Praia Grande. A vista do seu Castelo sempre presente sempre deu o valor a esta praia que é optima para as crianças.
Neste momento tenho duas filhas pequenas e quando vou a Portugal é na praia de Ferragudo que elas brincam.....
Adorei as suas fotos.
Gostaria de saber se por acaso sabe se é possivel efectuar alguns eventos no Castelo?!
Ou se não a onde posso obter o contacto dos novos proprietarios do Castelo.
O meu muito obrigada.
PG
Boa tarde
O que sei do Castelo de Ferragudo, através da comunicação social, é que foi comprado há poucos anos por um empresário português chamado Vasco Pereira Coutinho continuando, portanto, propriedade privada, embora esteja classificado pelo IPPAR desde 1975.
Não me consta que, ultimamente, se tenham realizado lá quaisquer eventos. Apenas guardo na minha memória ter participado numa procissão que lá entrou. Isto há cerca de 50 anos...
Obrigado por ter visitado este blog que, infelizmente, não tenho tido disponibilidade para manter actualizado. Mas convido-a a visitar O Parente da Refóias também de minha autoria em: http://refoista.blogspot.com.
Cumprimentos e as maiores felicidades aí pelas terras de França.
Adorava conhecer o interior!
Mais do que museus o meu interesse è visitar casas habitadas, vividas com as marcas do modo de viver das famílias. Desde Blenheim Palace ao Palácio da Ajuda, ao Palácio de Mateus,a um solar minhoto ou a um simples apartamento...mais do que os salões de recepção, o que verdadeiramente me motiva e interessa são os aposentos da vida quotidiana, que quanto a mim são mais enriquecedores em "possíveis aprendizagens",mas...parece-me que poucos assim pensam.
Parabéns a João Pereira Coutinho, pelo seu gosto pessoal, pela família que formou, por ser como realmente é.
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