Finalmente, o Museu Municipal de Portimão parece dar-nos a entender que não demorará muito a ficar concluído. Depois de uma espera de tantos anos, não deixa de ser com satisfação que, nas minhas frequentes passagens à sua beira para "inspecção" da evolução das obras, verifico que vai ficando apresentável.
Não sei para quando está prevista a sua abertura ao público - ou sequer se já estará prevista - mas, exteriormente, dá gosto observá-lo. Por mais que não seja, pelo que representa no concretizar do sonho de muitos portimonenses de verem recuperado um símbolo tão representativo da história da sua cidade.
O sem-fim que transportava as cestas com o peixe do barco para o interior da fábrica, já é visível.
Há um estúpido ditado antigo - "de Espanha nem bom vento nem bom casamento" - que, de algum modo, representa o divórcio secular entre Portugal e Espanha criado, artificialmente, por gente de má índole. O edifício e, principalmente, a história desta antiga fábrica de conservas desmentem categoricamente tal ideia.
Trata-se de um testemunho inegável. No início do século XX, uma família de espanhóis - (nuestros) "Hernanos Feu" - radicou-se em Portimão e construiu uma fábrica de conservas.
Durante muitas décadas, deu trabalho a muita gente, incluindo milhares de operárias conserveiras, ajudou a desenvolver a indústria de pesca local e levou o nome de Portimão e de Portugal a quase todos os continentes através das suas exportações de conservas. Entre as suas marcas, "La Rose" tornou-se mundialmente famosa.
A velha chaminé da fábrica, devidamente preservada, é, só por si, um símbolo. Em Portimão, em meados do século XX, existiam dezenas.
Quando a crise chegou, as fábricas de conservas de Portimão morreram de pé como as árvores, mas, devido à grande boa vontade dos descendentes de D. Caetano Feu e da autarquia, foi possível recuperar a Fábrica Hermanos Feu, também conhecida por Fábrica de S. Francisco, como memorial da indústria conserveira da nossa cidade.
O processo foi demorado. Mais do que seria desejável. Valeu-nos que, esporadicamente, o espaço, mesmo sem condições, foi servindo de palco a diversas exposições, que, francamente, agradaram. Lembro-me dos casos da World Press Photo e Alcalar - A Pré-história em Portimão, por exemplo.
Mas, como mais vale tarde do que nunca, a obra vai tomando forma. A expectativa é de que possamos observar uma fábrica de conservas antiga, tal como funcionava, com todas as máquinas e apetrechos originais, e perceber como se fabricavam as conservas de peixe no século passado.
A arquitectura poderia enquadrar-se melhor no ambiente de uma antiga fábrica de conservas, mas são gostos...
Que o mesmo é dizer que ficaremos a saber mais sobre Portimão e a sua história, inevitavelmente ligada à actividade piscatória e afins e delas quase totalmente dependente até ao surgimento da nova indústria dos nossos dias: o turismo.
Certamente que, no final, terá valido a pena esperar. Pacientemente, como é nossa tradição.