sábado, 31 de março de 2007

Esculturas à beira-rio

Esculturas à beira rio - Portimão
À beira-rio, podemos apreciar diversos trabalhos de escultores de várias nacionalidades, entre os quais, Arlindo Arez, escultor e pintor portimonense, autor desta "Cariátide".

Quem, diariamente, faz o passeio da zona ribeirinha, muito "brasileiramente" falando, também chamado de "calçadão", tem a tendência de passar pelas esculturas ali existentes, há alguns anos, e quase já não as ver.

Mas, aqueles que só vêm a Portimão esporadicamente ou ali passam pela primeira vez e os que, realmente apreciam arte, são, forçosamente, atraídos por um conjunto de trabalhos de escultores de várias nacionalidades, entre os quais, alguns portugueses.

Não sou entendido na matéria, mas não posso deixar de apreciar, com os meus olhos de leigo, aquelas obras. E gosto. Gosto delas em si e do seu enquadramento. Na generalidade, relacionam-se, de algum modo, com a água, o mar, o rio.

Esculturas à beira rio - Portimão
Os "canitos", com a permissão dos donos, aproveitam esta Afrodite para alçar a perninha....

Não posso, no entanto, deixar de lamentar, que algumas das esculturas, como esta Afrodite, tenham sido colocadas directamente no chão. "Distracção" de quem as mandou lá pôr? Vontade de alguém, eventualmente, os autores? Desconheço. Mas os resultados são bem visíveis...

Afrodite, a deusa grega do amor, da beleza e da paixão, a Vénus dos romanos, serve aqui em Portimão para os "canitos" de alguns, portimonenses ou não, alçarem a patinha e alijarem aquele liquidozinho amarelo que foram acumulando, durante muitas horas, presos e solitários, num apartamento sem o mínimo de condições para os acolher.

Como vingança, portanto, nada melhor do que urinar na cara da escultura duma deusa, para eles tão apetecível como qualquer esquina, sinal de trânsito ou posto de electricidade, já que não o podem fazer na perna dos donos, por respeito...

Esculturas à beira rio - Portimão
Junto dos restaurantes da sardinha assada, há várias esculturas que, nem sempre, são devidamente respeitadas por quem lá trabalha.

Também aqui em Portimão, à semelhança do que se passa no resto do país, há uma grande falta de civismo. Aquela mentalidade de que nós só temos direitos e os outros só têm deveres é, talvez, um dos maiores obstáculos a ultrapassar.

Temos todos de perceber que a mudança e o progresso dependem, essencialmente, de cada um de nós. Há que olhar pela nossa terra, sermos responsáveis, sermos exigentes connosco próprios em primeiro lugar e, depois, com os outros. Nada cai do céu, de mão beijada, a não ser a chuva.

Se quiser ver mais fotografias de todas as esculturas, siga este link, clicando em galeria de fotos.

Esculturas à beira rio - Portimão
"Hipocampo", também da autoria de Arlindo Arez, escultor e pintor portimomense com atelier em Alcalar.

terça-feira, 13 de março de 2007

O Forte de S. João do Arade, Castelo de Ferragudo

Forte de S. João do Arade - Ferragudo
O Forte de S. João do Arade era um guardião da entrada do rio.

Acontece frequentemente abstrairmo-nos do que temos à nossa volta e prestarmos apenas atenção àquilo que se encontra para além do nosso alcance quotidiano. A beleza que nos rodeia parece tornar-se banal por a termos sempre disponível e tendemos a só atribuir valor ao que é dos outros e está do lado de lá.

Em Portimão e arredores há muitas coisas dignas de apreço e tenho a sensação de que muitos de nós as deixamos, sistematicamente, passar ao lado, quando delas poderíamos usufruir com a maior facilidade.

O Forte de S. João do Arade - monumento classificado, embora propriedade de particulares - foi, recentemente, objecto de obras de recuperação e ficou de cara lavada.

É um pequeno forte cujos primórdios remontam aos finais do sec. XV, um dos emblemas da nossa linda vizinha Vila de Ferragudo e está sempre disponível a quem o olha da margem direita do nosso rio comum - o Arade.

Forte de S. João do Arade - Ferragudo
Até os barcos acostados na marina se perfilam para lhe prestar homenagem....

Em todos estes séculos, foi um dos guardiões da entrada do Rio Arade e, se falasse, muitas coisas teria para nos contar. Não tendo voz, deixa-nos, no entanto, a possibilidade de dar largas à nossa imaginação e recordarmos por ele o que por ali se passou.

Quanta água - no inverno castanha dos aluviões roubados aos homens da serra e do barrocal;

Quantos barcos - galeões de quase-escravos, traineiras e enviadas, botes e chatas;

Quantos marujos - pescadores, mestres e contra-mestres, velejadores e remadores.

Quantos naufrágios - de barcos encalhados nos baixios das movediças areias do Rio, eternamente assoreado.

Tudo ele viu.

Forte de S. João do Arade - Ferragudo
O Forte de S. João do Arade foi edificado à babuja do Arade e sobre as própria rochas que apertam as suas águas na margem esquerda.

E, agora - idoso mas sempre atento, em pose de sentinela impotente para parar o inimigo ou, mesmo, alertar do seu avanço inexorável - ali se mantém firme numa confrontação com as modernices que, do lado de cá, se têm vindo a instalar a pouco e pouco, ocupando espaços em terra e - preocupante, muito mais preocupante - roubando os que pertenciam ao Rio e ao Mar.

Dizem os antigos - velhos sábios marujos - que as suas águas, mais tarde ou mais cedo, virão sempre recuperar o que lhes pertence.

Não sei se sempre, mas os exemplos estão à vista. Não há inverno que não nos mostre essa tentiva do mar a tentar reocupar o que já lhe pertenceu, como aconteceu na Costa da Caparica ainda há dias.

Entretanto, disfrutemos do que a nossa terra tem de belo. Porquê perdê-lo todos os dias?...

Forte de S. João do Arade - Ferragudo
Num mesmo olhar, num abraço amigo, o Forte, a Cidade, a Fóia e as Águas do Arade, já salgadas do mar.

sexta-feira, 2 de março de 2007

Casas da Rocha

Praia da Rocha - 2007
Por vezes, volto as costas para o mar e avisto casas que, felizmente, ainda destoam das que as rodeiam.

A paisagem da Praia da Rocha não é só areia, mar e sol. Quando, caminho pelo passadiço de madeira ou, à babuja, pela areia fresca, frequentemente dou comigo a olhar para o casario e, aqui e além, no meio daqueles caixotes de betão, ainda consigo descortinar uma casinha ou outra com a sua graça.

Eventualmente, não serão de grande traça arquitectónica - deixo isso aos entendidos, que pouco me preocupa - mas que me agradam à vista, agradam.

Provavelmente, porque as vejo à beira do sufoco, apertadas por edifícios feios e desproporcionados, quais espécies infestantes, construídos à sua volta nas últimas décadas, sinto a sua beleza sobressair como que num pedido de socorro, talvez desesperado, apelando à atenção de quem passa.

Praia da Rocha - 2007
Estas pequenas casas que, no seu tempo, eram grandes mansões estão agora oprimidas por grandes edifícios sem qualquer beleza.

Felizmente, todas as aqui apresentadas têm horizonte aberto para o mar em condições de não ser possível - digo eu - emparedá-las desse lado. Será, certamente, uma garantia de que poderão continuar a ser apreciadas por todos os que delas gostem como eu, sejam portimonenses ou visitantes e amigos da nossa terra.

Isso, claro, com uma boa dose de optimismo que, por vezes, já é difícil de arranjar. Porque no fundo, no fundo, surge-nos sempre a dúvida e, mesmo involuntariamente, uma pergunta vem ao de cima:

Até quando se manterão a consolar-nos a vista, sem ser substituídas por outras edificações, mais modernas e rentáveis, árvores de patacas inevitavelmante mais feias e deprimentes, para acolher mais uns bares, restaurantes, artesanatos ou seja lá o que for?...

Praia da Rocha - 2007
Por quanto tempo mais, o pequeno Hotel Bela Vista se manterá assim com o seu palmar-esplanada?...

O que mais me custa e preocupa é ver que a generalidade dos jovens das últimas gerações, da Praia da Rocha só conhecem os bares da zona da Katedral, numa perspectiva embaciada, húmida e acinzentada da noite.

Quanto à praia propriamente dita, também a conhecem de revés, quando, com os olhos ainda piscos da noitada na tal zona dos bares, se atrevem, aí pelas seis, sete horas da tarde, a dar o seu mergulho vespertino no intuito de melhor despertar para mais uma sessão nocturna de shots & bejecas.

Se eles já alguma vez tiveram oportunidade de apreciar a beleza das pequenas coisas como estas ou se, ao menos, sabem que elas existem, não lhes posso dizer. Porque já não há tempo, condições e, ainda menos, vontade para as gerações dos cotas e dos jovens (em idade física, claro...) dialogarem sobre seja o que for.

Praia da Rocha - 2007
Poucos já terão tido o privilégio de olhar o mar a partir daquelas janelas.