quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O Convento de S. Francisco

Convento de S. Francisco - Portimão
Fachada principal do Convento de S. Francisco, em Portimão.

A fundação do Convento de S. Francisco - ou de Nossa Senhora da Esperança, como também é conhecido - remonta ao século XVI e é fruto da iniciativa de Simão Correia, antigo capitão de Azamor.

A sua história parece querer contar-nos que, logo na sua origem, terá sido fadado para o infortúnio, a crer naquilo que por aí está escrito. Desde desentendimentos entre os Franciscanos até derrocadas, venda a privados que o utilizaram inapropriadamente como armazém disto e daquilo, incêndios e por aí adiante, tudo lhe aconteceu.

No entanto, a pior das desgraças terá sido, certamente, o total abandono a que foi votado nas últimas décadas, período em que se foi acentuando a sua degradação, pondo, cada vez mais, em risco o que ainda resta da sua estrutura arquitectónica.

Convento de S. Francisco - Portimão
Convento de S. Francisco, Portimão. Vista Sul.

Dizem as crónicas que, no decurso do século XX, a autarquia de Portimão tentou adquirir o edifício, nunca tendo logrado concretizar tal pretensão. Actualmente, desconheço se ainda existe tal vontade da parte da Câmara Municipal e, em caso afirmativo, se têm sido feitas quaisquer diligências no sentido da sua aquisição e posterior recuperação.

Em Março de 2006, o jornal local "Barlavento" publicou uma peça sobre o Convento de S. Francisco - curiosamente, na secção "Economia"... - onde dava conta de que os proprietários "pretendem requalificar e transformar o espaço histórico num luxuoso Hotel de Charme".

Este Monumento foi classificado como imóvel de interesse público em 30 de Novembro de 1993, através do decreto 45/93. Decorreram quase 15 anos. Já passou muita água por debaixo das pontes do Rio Arade. Mas o tal "interesse" que foi decretado, até ao momento, não consta que se tenha manifestado. Pelo menos, em termos práticos, que é o que interessa.

Convento de S. Francisco - Portimão
Interior do Convento de S. Francisco, Portimão.

Porém, a tal notícia do Jornal ficou-me aqui "em suspenso" e, sempre que me lembro do Convento, dou comigo a lançar interrogações para o ar para as quais ainda não encontrei resposta.

O primeiro lugar, já o referi atrás como uma dúvida, será que a autarquia ainda está interessada na aquisição do edifíco - e área circundante, claro. Nem me passa pela cabeça que não esteja - passe a incongruência...

Segundo: será que os seus actuais proprietários já iniciaram o processo de licenciamento e construção do tal hotel de charme?

Terceiro: Será aceitável que, numa das mais representativas e progressivas cidades do Algarve, se mantenha uma situação destas, em que um Monumento emblemático do concelho se vai esvaindo, na frente dos nossos olhos, pedra após pedra, até à derrocada final?

Convento de S. Francisco - Portimão
Interior do Convento de S. Francisco, Portimão.

Quarto: Será que a Cãmara Municipal de Portimão, a exemplo do que fez - quanto a mim, muito bem - com o antigo Estádio do Portimonense ou, se não for da sua competência, a entidade oficial que lhe competir, não poderão proceder à sua expropriação, na eventualidade de não chegarem a acordo com os actuais donos?

Poderia referir aqui mais algumas perguntas que também me ocorrem, mas não vejo necessidade disso. O que me parece importante é que algo seja feito, quanto antes, ou poderá ser tarde de mais. E, para isso, seria bom que todos nós, munícipes portimonenses, não deixássemos cair este assunto em saco roto.

E que o executivo camarário também nos informasse do que foi e está a ser feito relativamente a este caso. Mas, refiro-me a acções concretas. E, se não estiver a ser feito nada, que passe a sê-lo.

Convento de S. Francisco - Portimão
Interior do Convento de S. Francisco, Portimão.

Apresento aqui algumas fotografias bem elucidativas do adiantado estado de degradação em que o edifício se encontra. O intuito não é o de atacar ninguém, pessoas ou instituições, mas apenas e exclusivamente o de lançar mais um alerta - diria, até, um grito de socorro - para um problema que é tão urgente como importante para a nossa cidade.

Noutra página intitulada Galeria do Convento de S. Francisco, deixo mais algumas. Para que, antes de mais, possam ver, ou melhor, imaginar a beleza daquele monumento e, depois, o real estado de calamidade em que se encontra e a urgência em se fazer algo para que não se perca em definitivo.

Clique, então, em Galeria do Convento de S. Francisco e, caso assim o entenda, dê a sua opinião, fazendo um comentário neste post.

Veja também como o IPPAR descreve este Monumento e a sua história.

Até à próxima e obrigado por ter visitado este Blog.

Em tempo: O pedido de classificação do Convento de S. Francisco como imóvel de interesse público foi apresentado, em 1986, pelo Dr. Manuel Ramos – autor dos blogs Saco dos Desabafos e Blogue do Vereador – e pelo Professor Horta Correia. A ambos presto a devida homenagem.

Convento de S. Francisco - Portimão
Convento de S. Francisco, Portimão. Vista para o Rio Arade.



Veja aqui a apresentação das fotografias no YouTube:



5 comentários:

Manuel Ramos disse...

Parabéns pelo post e pelas belíssimas fotos. O Convento bem merece. É realmente uma vergonha a situação a que chegou este valioso exemplar da arquitetura manuelina e maneirista que os franciscanos construiram à beira do Arade. E digo-o com amargura, porque fui eu e o Professor Horta Correia que apresentámos ao IPPAR em 1986 a sua proposta de classificação. O que diria o rei D. Sebastião que ali esteve e assistiu a uma missa solene? E Martinho Castelo Branco, primeiro conde de Portimão, ou Simão Correia que o patrocinou; e Jaime Palhinha que escrupulosamente o desenhou e entretanto nos deixou. Entre muitas curiosidades que este convento reúne, aqui fica mais uma: o brasão de Simão Correia, à guarda do Museu Municipal, é provavelmente o maior que Portugal teve no séc. XVI!

MaD disse...

Caro Dr. Manuel Ramos

Um duplo obrigado e um duplo pedido de desculpas.
Obrigado pelo seu comentário. Muito obrigado por ser um dos responsáveis pela classificação deste monumento.
Desculpe-me por desconhecer o seu nome completo e não ter associado a informação do IPPAR, na parte da bibliografia, à sua pessoa. Por esse motivo, não o referi, inicialmente, neste post, o que, espero, também me releve.
Como cidadão anónimo e de pouca valia, mas interessado pelas coisas do meu País e do meu Mundo, apresento-lhes os meus sinceros parabéns – a si, que conheço da blogosfera, e ao Professor Horta Correia, que, infelizmente, não conheço.
Presto, também, uma homenagem ao Dr. Jaime Palhinha, que conheci pessoalmente, por motivos de natureza profissional, pessoa exemplar e grande amante da cidade de Portimão, a quem não tem sido dado o reconhecimento que mereceu e merece.
Mais uma vez, obrigado a todos.
Mário Duarte

Manuel Ramos disse...

Caro Mário Duarte,
Deixemos os prefixos (Dr.), de que não sou grande apologista, e as desculpas porque desnecessárias.
O propósito do meu comentário, impossível de evitar tal o envolvimento afectivo com este edifício, era tão só acrescentar algo de novo e prestar a minha solidariedade.
E quanto a agradecimentos, ficamos quites: eu também agradeço o prazer que sempre tenho em ler o que escreve, aqui e noutros blogues que assiduamente visito.
Cumprimentos.

Anónimo disse...

Realmente é uma grande tristeza ver tão solene monumento numa dura batalha contra o tempo.
Certamente não como "Hotel de Charme", mas como museu de Arte Sacra ou similar, ao serviço do publico em geral, seria local certo de romaria, nem que fosse pelos turistas que passam por ele e devem pensar que os Portugueses são loucos em não aproveitar o que outros tempos nos deram, ou deixaram. É assim o país que temos.
Sinceramente nem sei o que, pessoalmente, me desanima mais:
-se é ver o avançado estado de degradação e o não empenho de quem de direito;
- o não ter poder de fazer mais ou melhor ou pelo menos tentar;
- o ter conhecimento de que possui no seu interior "novos inquilinos" que certamente darão o seu "melhor" contributo para sua preservação (como se pode ver pelos grafitis nas paredes ou nos colchões, mantas e seringas)

Enfim.......


Lamentável deixar que tudo apodreça para que só depois se venha a admitir o verdadeiro potencial de um pais ou região.

Cumprimentos

Anónimo disse...

O senhor escuse-se de preocupar porque nem no seu tempo de vida nem daqui a 100 anos vai observar esta ruína a colapsar naturalmente por si mesma. Se a Câmara Municipal não actuar de modo contraria. De facto o que temos em mão é historia mas de modo algum penso que o interesse seja preservá-lo. Se não já o tinham feito. Tem de compreender que este tipo de imóveis são de interesse histórico para interessados em história. O interesse exclusivo da Câmara é o terreno e absolutamente mais nenhum. Já reparou na qualidade desta zona e como ela pode a vai lucrar? O único e repetido exemplo que temos de preservação de "monumentos" históricos são as malditas chaminés onde as cegonhas fazem ninho. Já assisti a inúmeras apresentações de projectos de renovação/restauração/recuperação... de imóveis de interesse histórico. Digo que nem um dos projectos propostos foram cumpridos. Vai tudo abaixo à grande e à portuguesa!. Tem o exemplo do teatro de Portimão, junto à casa inglesa. A ideia principal era preservar a fachada principal para manter a sua "classe", a sua história" bla bla bla. Foi tudo abaixo. Portimão gosta de gastar dinheiro e gosta de gasta-lo mal, mas não vou entrar por aí agora.

O que tem de fazer é recolher umas assinaturas, mais de mil, e entregar na Câmara, indicando o seu verdadeiro interesse e exigir que o dinheirão que gasta em impostos disto e daquilo seja finalmente aplicados a uma coisa que lhe seja de verdadeira importância.